Vargues

Filipa

Na natureza é onde Filipa se sente melhor, e a sua carreira profissional também segue esta direção. É comunicadora de ciência no Centro Ciência Viva do Algarve, onde realiza investigação de campo, atividades de ensino e ações de sustentabilidade.

1. Para aqueles que não a conhecem, como se definiria? Quem é a Filipa?

Filipa é uma rapariga de 31 anos que vive no campo (Estoi, Arjona), no meio da natureza, mas que também ama a cidade. Gosto de passar tempo com a minha família querida e com os meus animais de estimação. Gosto de viver, de sorrir, de desfrutar da vida.

2. O que sonhavas ser quando era criança?

Queria ser veterinária. Preocupava-me com os animais terrestres, mas depois também me interessei pelos animais marinhos. Então, ao escolher a licenciatura, descobri as Ciências Marinhas, e disse a mim mesma – esta é a área que me interessa, porque gosto da Ria Formosa, do mar, e com as Ciências Marinhas pude estudar outras partes da vida marinha. 

3. Podes dizer-nos mais sobre a tua área de estudo e as atividades que realizas?

Comecei na universidade, com a minha primeira licenciatura, e foi aí que descobri o lado científico da investigação. Então, trabalhei um pouco no laboratório. Fazia, normalmente, trabalho de laboratório ou de campo. Costumava ir no meio da Ria Formosa para recolher amostras dos sedimentos ou da água. Com o tempo, percebi que gosto mais de estar lá fora, no campo, em vez de estar no laboratório. 

Completei um Mestrado em Sistemas Marinhos e Costeiros, que é a continuação do meu Bacharelato. Depois, comecei a ajudar outros investigadores e professores no seu trabalho, em laboratório, na recolha de amostras ou nos barcos. Fui comandante durante algum tempo. Em 2017, completei também um mestrado com uma tese sobre a qualidade da água. Recolhi algumas amostras de água da Ria Formosa e, com base nisso, conseguimos limpar a água de Ibuprofeno e Amoxicilina. Além disso, fiz algum trabalho voluntário na universidade, principalmente no laboratório. Depois, tirei um ano de férias, e depois disso, comecei a trabalhar no Centro Ciência Viva do Algarve. Trabalho lá há 4 anos.

Sou Comunicadora Científica no CCVAlg, mas também faço muitas outras coisas. Trabalho diretamente com pessoas, as que vêm visitar as exposições, aquário, touch pool. Faço visitas guiadas e realizo atividades para crianças que vêm com a sua turma para visitar o centro. O que faço é simplificar-lhes a ciência, para que possam aprender e divertir-se ao mesmo tempo. Por vezes, até vou às escolas para isso. 

Também trato da nossa estufa, onde produzimos microalgas. Há também uma estação de reciclagem de plástico que utilizamos para transformar o plástico em outras coisas. Agora, estamos a trabalhar no fabrico de vasos para as plantas. Por exemplo, trituramos as tampas de plástico e moldamo-las em outras coisas. É como dar uma nova vida ao plástico. Por vezes, também ajudo com o trabalho de manutenção dos aquários.

Há alguns anos, costumava dizer que não queria ser professora, e falar com as pessoas, mas é basicamente isso que estou a fazer agora. Por vezes, depois de trabalhar com muitas crianças num dia, fico muito cansada, mas feliz por transmitir conhecimentos e sentir que fiz a diferença. Não vou a uma aula pensando que eles têm de me ouvir e não falar uns com os outros. No início, esta foi a minha abordagem. Agora, não penso dessa forma. Se eles quiserem falar, podem fazê-lo. Na maior parte das vezes, eles falam exatamente sobre o que estamos a fazer.

4. Como descrever o trabalho que o CCVAlg faz?

Transmitimos conhecimentos sobre ciência e sustentabilidade a outras pessoas em palavras que elas possam compreender. CCVAlg é um espaço a que as pessoas podem ir e ver outras coisas e perceber estes temas. A maior parte do trabalho que fazemos está relacionada com a sustentabilidade e sobre como preservar o nosso ambiente. Fazemos muito trabalho em torno da equidade, da inclusão, também.

5. Qual é a importância da Ria Formosa e do oceano para o trabalho que  tu e os teus colegas estão a realizar?

Falamos muito da Ria Formosa, especialmente porque o centro está construído no limite entre a cidade e a Ria Formosa. A partir daí, podemos ver muitas coisas, tais como as aves migratórias, as marés, os caranguejos, muitas coisas que se não tivéssemos a Ria Formosa como nossa vizinha, seria muito mais difícil explicar certas coisas às pessoas que vêm ao centro.

6. Qual foi a maior descoberta pessoal desde que começaste a estudar o mundo marinho?

O fato de eu gostar de fazer o que estou a fazer, e de poder fazer a diferença e de me sentir realmente feliz com isso.

7. Porque nos devemos preocupar com a vida marinha?

A vida marinha é uma parte muito importante do nosso planeta, não importa se está aqui, em Portugal, ou noutras partes do mundo. 50% do oxigénio que respiramos provém das algas marinhas e da relva. Devemos proteger a Ria Formosa da mesma forma que protegemos as nossas florestas. Não devemos poluí-la; estamos sempre a falar de microplásticos – é o tema mais falado. É ruim para os animais, mas para nós, humanos, também – podemos ter microplásticos dentro de nós sem estarmos conscientes disso.

8. Como podemos proteger o nosso ambiente e ter um estilo de vida mais sustentável?

A primeira coisa é não deitar lixo na rua, e colocá-lo nos caixotes do lixo ou reciclá-los. Depois, devemos fazer compras conscientes. É sempre bom escolher produtos locais, porque envolve menos custos. 

Finalmente, é importante desfrutar da natureza, porque a maioria das pessoas não presta atenção a ela. Talvez passemos pela natureza todos os dias, mas não olhamos realmente para ela porque pensamos que estará sempre lá. Quando vamos a outros países, tiramos fotografias de tudo, e muitas vezes negligenciamos o que está mesmo ao nosso lado. 

Outra coisa importante é amarmo-nos a nós próprios. Quando se é bom consigo mesmo, não se tem razão para descarregar as frustrações e a raiva no ambiente.

9. Que diferença pode fazer as ações do cidadão comum em relação às questões ambientais?

Normalmente, dizemos que uma pessoa não pode fazer a diferença. Mas se se pode influenciar outras pessoas a fazer o mesmo de uma forma positiva, pode-se gerar uma rede que faz bem para o ambiente. Trata-se do poder do exemplo. 

Tenho um amigo que costumava ir com a sua própria embalagem ao supermercado para comprar fiambre e queijo e o atendente dizia-lhe que não estava autorizado a utilizar outra embalagem que não aquela do supermercado. Então, noutra altura, o atendente concordou em utilizar a sua embalagem. Precisamos de pequenos avanços. Penso que o melhor é mudar uma coisa de cada vez. 

É claro que as indústrias têm mais poder para mudar as coisas do que nós. Mesmo que mudem uma coisa pequena, é mais do que aquilo que nós, como pessoas comuns, podemos fazer.

10. Qual é o lugar em Faro a que estás mais ligada? Porquê?

Gosto muito da Ria Formosa, mas também gosto do campo, e de passar tempo na natureza, de observar os riachos, os peixes, as tartarugas. Gosto de sentir o ar fresco, de ouvir os pássaros e as árvores.

11. Qual é a primeira coisa que te vem à cabeça quando pensas em Faro?

A natureza. Ria Formosa. As pessoas. Cidade Velha.

12. Qual seria a banda sonora da tua história de vida?

O som dos pássaros e das árvores.


Note: Given that “People of Faro” is a project initiated and carried out by international volunteers of Contextos, the interview was done in English and subsequently translated by us into Portuguese. If you want to read the English version, click here.

© Photos by Beatrice Dragusanu