A Ana é uma pessoa do mundo. Nasci na Ucrânia e vim para Portugal quando tinha 16 anos. Eu e os meus pais, mas agora tenho o meu marido e a minha filha. Viajo bastante, pelo meu trabalho e não só, porque gosto de viajar, gosto de conhecer culturas novas, pessoas novas. Todos os meus projetos têm a ver com as pessoas. Gosto de socializar. Sou bailarina, gosto de dançar, de dar aulas, e gosto também muito da parte do voluntariado, por isso, neste momento, uma grande parte do meu tempo é dedicado ao apoio das pessoas que vêm da Ucrânia, não só por ser o meu país, como sinto que é o meu dever ajudar as pessoas a encontrarem-se.
O meu pai veio para Portugal porque estava desempregado há algum tempo na Ucrânia, e foi à procura de uma vida melhor, estava à procura de um país onde pudesse arranjar emprego. Na altura não conhecíamos muito bem Portugal, sabíamos muito pouco, mas sabíamos que o tempo era bom, que as pessoas eram simpáticas e achávamos que seria uma boa oportunidade, e estou de acordo, melhor não podíamos estar. É como eu digo, nós podemos viajar, viajamos muito, eu viajo muito mesmo, e estar na Europa, na União Europeia, facilita também, porque na Ucrânia, sair sempre foi um pouco complicado. Aqui não podia estar mais feliz.
Foi perfeita. Quando eu vim foi tipo “Olá toda gente, estou aqui, sou a Ana!”. Foi muito bom.
Para começar, os meus pais sempre foram bailarinos profissionais, os dois, e a minha família é toda de bailarinos, toda a gente na minha família, praticamente, sempre foram bailarinos. A minha cidade da Ucrânia – Kropyvnytskyi – é a capital da dança da Ucrânia. É uma cidade com muitas escolas de dança, e com um colégio muito conhecido de dança, onde eu estudei. Eu danço desde os meus 5 anos, e tirei o curso já no colégio lá, quando eu vim para cá eu já tinha formação para poder dar aulas, tinha apenas 16 anos, mas já estava preparada para dar aulas, e foi aí que comecei.
Dança Contemporânea é o estilo que eu mais gosto. Eu tenho licenciatura em dança, e tirei o curso superior em Lisboa (Instituto Politécnico de Lisboa, Escola Superior de Dança), em dança contemporânea, e mais na parte de criação coreográfica. Eu gosto muito de fazer coreografias, e gosto, também, de organizar eventos, gosto de organizar festivais, concursos. A minha mãe é mais a base, dá aulas técnicas, e dá mais dança clássica, Ballet Clássico, eu, mais criativo.
Ballet Clássico, dança urbana ou hip hop. Nós também temos uma vertente que é danças tradicionais, ainda este fim-de-semana estivemos no Porto, e ganhámos com a dança Ucraniana, tentamos manter as nossas origens cá.
Há muitos bailarinos. Se formos falar ao nível mundial, a Pina Bausch. Se falarmos do nível nacional, a Rita Spider. Também tenho um amigo meu que pra mim tem uma energia espetacular em palco que é o Filipe Rico. Ele é coreógrafo de muitos cantores portugueses, tem uma escola também, e é das pessoas que eu mais gosto de ver dançar, é mais hip hop e dança urbana. Juntou-se agora à nossa equipa de jurados.
Eu estava à procura de um nome que fosse fácil, de preferência em inglês, que fosse fácil de pronunciar em todo o lado do mundo, porque sempre tive grandes ideias de viajar por aí com eles. O sítio mais longe que fomos foi à Ucrânia, até agora, mas estamos a tentar todos os anos ter dois ou três países para viajar ou participar em eventos. Então foi um pouco por aí, andei no dicionário a ver palavras, depois cheguei à parte do Splash e pensei que era algo “booom” e era isso que eu queria, foi assim.
É bom. É muito difícil, porque cada pessoa é uma pessoa diferente, todos eles têm a sua personalidade, e nós temos que conseguir. Com um eu preciso dizer “olha estás muito bem, boa”, e a pessoa fica motivada, com outro se eu faço o mesmo ele deixa de trabalhar, então nós temos que arranjar uma maneira própria de lidar com todos eles, e eles são muitos. Nós temos neste momento cerca de 80 bailarinos, e depois nos concursos, além dos bailarinos, ainda vão os pais atrás, então somos muitos, e é como eu digo, tem que se lidar com pessoa a pessoa, mas é giro. É como uma família, acho que em qualquer família as pessoas têm os seus altos e baixos, e temos que ser flexíveis e arranjar o equilíbrio.
Começou na rua. Começamos a dançar na rua, éramos três, eu e mais duas amigas, e depois começamos a ser acompanhadas por um carro. Ligávamos as luzes do carro e o rádio, e dançávamos. Pouco a pouco começamos a dançar nas discotecas, começamos a juntar dinheiro com as atuações, fomos alugando espaços, fomos crescendo e neste momento temos cerca de 80 pessoas, com umas condições boas, claro.
Eu acho que, num concurso ou num espetáculo, o que é que diferencia uma escola da outra ou mesmo um bailarino do outro, é dançarmos com a alma, divertirmos-nos quando estamos num espetáculo. É claro que a técnica é importante, mas a alma é muito acima disso, e mesmo as críticas que eu faço, quando eu faço de jurada num concurso, aconselho sempre as pessoas a não serem máquinas, é divertirem-se, é viverem aquele momento ao máximo,vai fazer a diferença.
Foi bom, foi uma experiência única. Nós fomos com um grupo primeiro, que chegou às galas em direto, tivemos a gala em direto e no dia a seguir começou a pandemia, fechou tudo. E agora recebemos o convite do America ‘s Got Talent para participar nas audições, ficamos todos felizes, até fizemos a pré-inscrição para fazer o primeiro casting, era online. Tivemos um problema, porque dez dias antes começou a guerra na Ucrânia, e eu com a minha família lá, então eu fiquei completamente fora e nem consegui preparar ninguém, e pedi desculpa aos meus alunos, mas não tive nem condições de os levar a estas audições. Agora a próxima que houver vou ter que corrigir este meu erro, e prepará-los para participar, porque America ‘s Got Talent seria uma experiência única. Eles perceberam, e deram-me muito apoio e andaram comigo em demonstrações que houveram, eles são completamente a minha família.
Vai bem, fizemos uma em novembro em Lisboa, e a outra em março no mesmo teatro. O que é que aconteceu? De novembro a março triplicou, em novembro tivemos 150 bailarinos e em março 400 e tal bailarinos. Foi muito bom. Ao nível do público, se nós em novembro tivemos metade da sala ocupada, em março a sala esgotou por completo, tivemos pessoas na rua à espera porque já não havia bilhetes. Foi um crescimento enorme. A próxima vai ser em Faro, espero poder vir a dizer que está esgotada.
Não, tento sempre convidar jurados profissionais em cada área, e nesta última edição, em todas elas, tentamos sempre arranjar bailarinos extraordinários. Há uma bailarina muito conhecida, que faz parte dos jurados, que é a Rita Spider, que percorreu já o mundo inteiro, que da primeira vez que me disse que ia entrar, fiquei assim “uau”.
Sim, muito. Eu na altura da universidade consegui pagar os meus estudos só dançando, com os trabalhos que fazia por fora, especialmente na televisão.
É assim, sempre vivi disto. Sempre vivi daquilo que eu faço, mas eu acho que não dá para ser muito rico e ter uma vida muito boa sendo artista, em Portugal, infelizmente não dá, mas para viver sim, é possível. Acho que cada vez há mais oportunidades, e os bailarinos vão tendo cada vez mais direitos, estou a falar dos bailarinos, porque só agora é que ganharam o estatuto de profissional, só agora, passado tantos anos é que nós podemos realmente ter algum tipo de apoio. Mas eu acho que quando tu és bom profissional, em qualquer área, consegues fazer vida disto, e os meus alunos quando vêm perguntar a opinião ou dizem que gostavam de dançar mas têm medo de ficar sem trabalho. Eu posso dizer que no meu ano nós éramos muitos na universidade, mais de 40 pessoas, e ninguém está desempregado, neste momento, não há nem um que não tivesse trabalho na área ou que tivesse que ir para outra área, portanto eu acredito que sim, e cada vez mais vejo futuro. Nós agora quando fomos a concurso eu fiquei a ver que a dança cresceu imenso, muita gente a querer dançar, muita gente a querer participar, e estou muito positiva em relação a isso. É exatamente por isso, que estou a abrir mais uma escola, e espero daqui a um ano estar aqui e dizer que correu bem.
Não, nunca. Eu podia variar do género. Queria ser bailarina primeiro, depois já queria mais dar aulas, agora estou mais numa de fazer coreografias e organizar a escola em si, organizar eventos, acompanhar concursos, ou seja, vou variando, mas dentro da minha área sempre.
Está sim, ela adora. Quando ela tinha três semanas de vida eu comecei a trabalhar, só fiquei três semanas em casa. Passado três semanas já tive um festival, e eu própria fui para o palco dançar, e ela estava no ovinho a ver, e desde aí ela está a ver os ensaios todos, as aulas todas, está sempre presente comigo, lá vai andando dar ideias aos bailarinos. Ela por acaso já participou num evento, e ia ter um espetáculo, mas ficou doente. Nós fomos ao Got Talent Portugal em 2019, ela tinha 11 meses, e ela foi connosco para as gravações, lá andou nos estúdio a ver tudo, ou seja, desde as três semanas de vida que ela acompanha tudo.
A minha filha é uma artista, desde sempre. Ela vai ao médico, por exemplo, e diz “Olá doutora, subscreve o meu canal, deixa o seu like e até ao próximo vídeo.” toda ela vive isto, e adora ser filmada, e adora tirar fotografias, e ser o centro das atenções. Cria histórias e diz para gravarmos assim, toda ela é um filme. Eu pensei, se isto já vem dela e ela gosta, por que não? Ela diverte-se imenso. Depois tenho a minha sobrinha, que gosta de editar, e sempre que vem a Portugal, acho giro ocuparem o tempo assim. As duas preparam o vídeo, sobre o que vai ser, eu ajudo a gravar, depois a outra edita, a outra mete vozes por cima, e vão partilhando. Até já fizeram um tiktok para o nosso cão, o cookie, só temos o cão há duas semanas, mas já tem tiktok.
Eu acho que neste momento, sim. Quando eu cheguei, não era, por isso é que eu senti a necessidade de criar um grupo meu, achava que não havia muita oferta, não havia aquilo que eu gostaria de integrar. Então pouco a pouco, comecei a fazer aquilo que eu acho que eu gostaria que os meus filhos andassem. Na mesma altura em que eu comecei, havia várias pessoas a começar. Depois houve o Achas Que Sabes Dançar?, um programa que trouxe muita fama à dança. A universidade também tem imensos alunos, é um curso que tem muita procura, e as pessoas continuam a ter trabalho pós-curso, vão passando a palavra, e vai havendo mais procura. E o Got Talent Portugal também é uma coisa que dá muita visibilidade. Por tanto, eu acho que cada vez mais a dança está a crescer em Portugal.
A qualidade cresceu imenso agora na pandemia, engraçado porque a pandemia fechou e parou tudo, mas do que eu via antes da pandemia e agora, os eventos que nós temos encontrado agora, não tem nada a ver, a qualidade é espetacular, muitas escolas, muito boas e muito grandes, impressionante. Voltei deste último evento cheia de esperança, nós encontramos o evento onde estavam 2 mil bailarinos, com 85 escolas do país inteiro, é muita gente.
O contemporâneo, que agora está mais na moda, o clássico Ballet e o hip hop também.
Eu acho que Faro é importante, claro. Faro é centro do Algarve, é uma cidade grande, tem muita gente, tem um teatro enorme, o teatro das Figuras estar aqui também é muito importante. Acho que Faro é muito bom, já pensa há muito tempo em abrir uma escola em Faro, sempre mantendo Vila Real de Santo António, porque além de ser a minha primeira escola, os meus continuam lá, não os vou abandonar, claro que não, mas depois a minha vida deu uma volta grande. Conheci um rapaz de Faro, mudei para Faro, e então já que passo muito tempo aqui, por que não realizar aquele projeto que tinha em mente, porque não abrir uma escola aqui? Embora aqui haja muitas escolas, e boas, há muita concorrência, mas acho que podemos sempre marcar a diferença.
Eu gosto das pessoas daqui. Gosto da cidade em si, acho uma cidade acolhedora, sinto-me confortável, sinto-me bem, em casa. Sempre me senti em casa em Faro, e é das primeiras razões que me fez vir para cá.
A doca, é lindíssima.
Neste momento? O hino da Ucrânia.